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Epidemiologia e Etiologia
Os tumores cerebrais malignos representam cerca de 2% dos casos de câncer no mundo. Estima-se que sejam diagnosticados a cada ano no Brasil cerca de 11.000 novos casos. Esses tumores cerebrais geralmente se desenvolvem durante a vida adulta, acometendo igualmente homens e mulheres, podendo ocorrer em qualquer idade. Eles estão se tornando cada vez mais comum entre pessoas idosas devido à maior longevidade e aos avanços dos recursos diagnósticos.
As causas de tumores do SNC ainda são alvo de muitos estudos. Entende-se atualmente que essa doença é multifatorial, causada pelo somatório de várias alterações genéticas. Algumas dessas alterações são adquiridas durante a vida, por predisposição ou por exposição. Outras são hereditárias e estão presentes em algumas síndromes familiares associadas com esses tumores, como a Neurofibromatose. Os fatores que sabidamente aumentam o risco são: exposição à radiação (profissionais que lidam com raios-X, pessoas que se submetem à radioterapia ou a exames com radiação excessiva) e deficiência do sistema imunológico (uso de medicamentos imunossupressores, infecção pelo vírus HIV).
Muitos outros possíveis fatores de risco para o desenvolvimento desses tumores já foram estudados, mas até hoje não se confirmou sua relação com a doença, a exemplo de traumatismos na região da cabeça, exposição a substâncias químicas (entre elas alguns derivados do petróleo, agrotóxicos e tintas), consumo de aspartame (tipo de adoçante artificial), exposição excessiva ao celular (radiofrequência) e transformadores/cabos de alta tensão (ondas eletromagnéticas). Até o momento, não existem medidas definidas para a prevenção específica dos tumores cerebrais.
Tipos de Tumores
Há mais de 120 tipos de tumores cerebrais primários. Apesar da maior prevalência ser atribuída aos tumores secundários, destacam-se entre os tumores primários mais comuns: Meningiomas (tumores das membranas que envolvem e protegem o sistema nervoso central), Gliomas, notadamente os Glioblastomas (tumores da glia, células que sustentam e auxiliam as funções dos neurônios), Meduloblastomas (tumor mais comum em crianças, afetando o cerebelo) e Adenomas da Hipófise (glândula que se encontra na base do cérebro, com diversas funções hormonais).
Sintomas
Os sintomas apresentam-se tanto nos tumores cerebrais não cancerosos como nos cancerosos. Um tumor cerebral pode causar muitos sintomas diferentes, que podem aparecer de forma súbita ou podem evoluir gradualmente. Os primeiros sintomas e a sua evolução dependem do tamanho do tumor, da velocidade de crescimento e da sua localização. Em algumas partes do cérebro, mesmo um tumor pequeno pode causar resultados catastróficos. Em outras partes, os tumores podem alcançar um tamanho relativamente grande antes de surgirem os sintomas. À medida que o tumor cresce, ele empurra e alonga, mas normalmente não destrói o tecido nervoso, o que pode compensar bem essas mudanças, impedindo o surgimento de sinais ou sintomas logo no início da doença.
Apesar e não existirem sintomas específicos que possam indicar a presença de tumores intracranianos, alguns merecem destaque:
- Dor de cabeça com sinais de alarme – não é qualquer dor de cabeça, mas sim uma dor nova (para quem nunca sente esse tipo de dor), mudança do tipo de dor, piora da intensidade (quando ela fica mais forte com o passar do tempo), aumento da frequência (quando a dor aparece mais vezes), ou quando a dor é fixa (toda vez ela aparece no mesmo lugar).
- Crises convulsivas – principalmente quando o paciente apresenta a crise pela primeira vez, ou não tinha recebido o diagnóstico de Epilepsia antes.
- Alteração de funções neurológicas – que são chamados de déficits focais, quando há perda de força ou da sensibilidade nos membros; de visão ou de audição; alterações da fala ou da capacidade intelectual (compreensão, raciocínio, escrita, cálculo, reconhecimento de pessoas); coordenação e equilíbrio; ou de comportamento (apatia, agitação ou agressividade) em relação ao padrão normal da pessoa.
- Ganho de peso súbito, produção de leite, parada da menstruação, entre outras alterações hormonais.
Exames
A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar o tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento. A partir do exame neurológico minucioso, os exames de imagem com Tomografia Computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM) são os principais na investigação dessas doenças. Existem outros estudos especiais, mais aprofundados, tais como a AngioTC e a AngioRM, a Espectroscopia, Difusão/Perfusão e outros. Alguns tumores possuem investigação diagnóstica através de Exames de Laboratório, Campimetria Visual, Audiometria, incluindo consultas e exames realizados por várias especialidades médicas.
Tratamento
O tratamento varia de acordo com o tipo de tumor, tamanho, localização, se ocorreu disseminação e condições do paciente (idade e estado geral). Sempre que possível, indica-se a remoção cirúrgica do tumor, o que permite a descompressão das estruturas cerebrais, além de fornecer material para análise sobre o tipo tumoral e, assim, a definição sobre os possíveis tratamentos adicionais mais adequados.
As modernas técnicas microneurociúrgicas permitem a abertura segura do crânio, com mínimos danos ao cérebro, favorecendo a remoção cirúrgica total ou mais abrangente possível para minimizar a chance de recidiva, protegendo as áreas eloquentes. Pode-se ainda utilizar modalidades acessórias para conseguir acessos por vias especiais, minimamente invasivas (endonasal) e de tamanho reduzido (biópsia estereotáxica), além de agregar diferentes tecnologias para aumentar a chance de retirar todo o tumor com os menores danos possíveis (cirurgia com o paciente acordado, aspiração ultrassônica, utilização de fluorescência transoperatória, aspiração ultrassônica e laser). Não obstante, muitos tumores são múltiplos ou crescem em zonas onde a completa extração é muito difícil ou mesmo impossível de ser realizada sem causar danos a estruturas vitais.
Mesmo quando a cura é impossível, a cirurgia pode ser útil para reduzir o tamanho do tumor, aliviar os sintomas e permitir ao médico determinar se a realização de outro tipo de tratamento é justificada, como radioterapia ou quimioterapia (incluindo imunoterapia e drogas imunoguiadas).
Uma outra modalidade de tratamento, indicada em situações especiais (tumores pequenos e indolentes, lesões de difícil acesso, recidivas em pacientes com comorbidades) consiste na Radiocirurgia. Na verdade, essa técnica não é, de fato, uma intervenção cirúrgica, visto que não requer nenhuma incisão: emprega-se um feixe de radiação concentrada, podendo ser realizada através de raios gama (semelhante aos de radioterapia) ou aceleradores lineares.
Para alguns casos específicos de tumores benignos e de lento crescimento, somente o acompanhamento clínico através de exames de imagem e consultas periódicas pode ser uma opção válida, especialmente para pacientes que apresentam poucos ou nenhum sintoma.
Medicamentos à base de corticoides podem ser utilizados para controle do inchaço ao redor do tumor e devem ser prescritos em associação a protetores gástricos O uso de anticonvulsivantes também pode ser necessário.
Em certas situações, quando os tumores causam aumento da pressão dentro do crânio devido ao acúmulo do líquido cefalorraquiano, torna-se necessária a realização de derivações com válvulas, quando se coloca uma fina cânula dentro das cavidades do cérebro (ventrículos) ou, por vezes, dentro do espaço localizado ao redor da coluna vertebral, com sua outra extremidade dirigida sob a pele, normalmente desde a cabeça até a cavidade abdominal. O excesso de líquido cefalorraquidiano é então drenado do cérebro para o abdômen, onde é absorvido. As derivações podem ser temporárias (DVE: derivação ventricular externa) ou permanentes (ex: DVP: derivação ventriculoperitoneal), quando são utilizadas válvulas reguladoras unidirecionais para controle do fluxo liquórico.